Arrepios pela espinha II

31-10-2014 17:29

Se o medo é uma coisa que está inerente à nossa condição humana era de contar que a resistência ao mesmo fosse gradualmente aumentando. E de alguma maneira é verdade: não nos assustamos com tudo o que nos acontece ou rodeia – de uma forma geral.

Mas por vezes há situações que não controlamos e que nos deixam surpresos, estáticos e com aquele arrepio crescente e involuntário. Também nisto Doctor Who consegue interferir. Já se falou dos Autons e de Vashta Nerada como precursores daqueles medos primários que todos acabamos por sentir e que estão regularmente no nosso dia a dia.

Um pouco à semelhança do que se passou com os manequins – mas umas boas doses acima em pavor – tivemos com as estátuas, graças ao grandioso episódio Blink.

 


 

Estas estátuas animadas aparecem em vários episódios e são elas que trazem alguns dos momentos mais interessantes da série. Não nos bastava ver River Song a partir um pulso para se libertar de uma – que uma vez arranjado foi direitinho à cara do pobre Doctor – ou serem as responsáveis por perdermos Amy e Rory na sétima temporada que ainda nos horrorizam o dia a dia com os milhares de estátuas que existem espalhadas por todo o mundo!

Para melhorar o ambiente não podemos pestanejar - “Don't Blink! Don't even Blink! Blink and you're dead!” - porque só se mexem quando ninguém as está a ver, e são bastante rápidas, diga-se. E mais: “The image of an angel becomes itself an angel”.

Talvez das coisas mais estranhas e assustadoras que podíamos ver depois de conhecermos tudo isto foi o pó a sair do olho da Amy, a mão a transformar-se em pedra. Não chegava termos de olhar fixamente para elas para não sermos enviados sabe-se lá para onde como o olhar fixamente para elas nos pode tornar numa delas. 

 


 

Nem a estátua da liberdade se salvou deste Angels take Manhattan o que em nada podia contribuir para aliviar o ambiente. Noventa e três metros de estátua a correr atrás de nós é capaz de induzir, ligeiramente, o pânico completo.

Mas estátuas e manequins são elementos comuns no mundo que nos rodeia. A escuridão é inevitável. Mas o desconhecido é o ponto comum de todos os medos e quando seres estranhos invadem as nossas vidas não ficamos de todo aliviados.

The Silence: têm logo um nome curioso e se a isso juntarmos a maneira como eles próprios dizem a palavra “Silenceeeeeee” num sibilar continuado não se augura nada de bom. O rosto com forma alongada, a mesma que associamos à imagem típica da morte também não cria grande simpatia.

 


 

O princípio de que com um toque nos podem desintegrar, o som de uma espécie de sucção que fazem com a boca é também intimidante, raios aparecem à sua volta enquanto as suas mãos longas e deformadas se aproximam do nosso corpo. Nada na simples imagem destes seres nos pode agradar ou dar uma ideia de calma ou bem estar.

Mas pior é que no fim de termos esta visão horrenda viramos as costas para fugir e automaticamente esquecemos que vimos o que quer que seja. Como fugir de alguma coisa de que não conhecemos a existência? Mas se nos viramos outra vez voltamos a assustar-nos, mas com ainda mais força porque nos lembramos que nos esquecemos de algo tão importante e não percebemos como foi possível.

Ao longo destes tempos estamos habituados a contrariar os nossos impulsos mais básicos porque algo os ameaça: “Don't Blink”, “Don't forget”, “Don't think”, “Don't breathe”. Parecem-nos tarefas apenas ligeiramente complicadas de fazer durante um tempo razoável mas e se disso depender a nossa vida? E se for a única solução para sairmos daquele episódio? Eu sei que cada vez que vejo uma estátua os meus olhos não se fecham. Se aparecem os Silenceeee vou fazer um risco no braço. Sempre que estiver escuro vou contar as sombras. Mas será que ainda assim lhes consigo escapar?

Artigo de autoria de Júlia Pinheiro, colaboradora externa do Whoniverso