Como convencer alguém a ver Doctor Who (parte 2 de 2)

24-01-2016 12:12

 

Depois de na semana vos ter demonstrado que o Doctor de Christopher Eccleston... Como? Isso é só a minha opinião e não pode ser inequivocamente demonstrado? Bah. Seja. Avancemos para os seis episódios que faltam desta lista, desta vez de três Doctors diferentes e que vos garanto que talvez sejam capazes de criar a possibilidade de eventualmente conseguirem, se calhar, convencer alguém a ver Doctor Who.

(não gosto de me comprometer demasiado, nestas coisas)

 

s02eC - The Runaway Bride (Tenth Doctor)

 

David Tennant e Catherine Tate. Uma dupla a relembrar, não duvidem, e que têm um pico de hilariedade neste episódio, o primeiro em que se encontram! Um Tenth Doctor que acabou de perder a Rose para um universo paralelo onde não consegue chegar, e uma Donna Noble de vestido de casamento, em choque por ter sido arrancada do altar.

Nem sei bem por onde começar. Por um lado há a introdução dos conceitos estranhos e intrínsecos à série, a uma pessoa que não só não percebe nada do que se passa, como nem sequer parece querer saber. Ideal para que um espectador novo aprenda como é que a série funciona.

E depois há a parte espectacular: a excelente química entre os dois actores e as duas personagens, que desde os primeiros momentos conseguem arrancar gargalhadas com o simples choque das suas personalidades.

 

s03e10 - Blink (Tenth Doctor)

 

Eu sei. Esta história mal tem o Doctor. E foi escrita pelo Steven Moffat. Espantem-se, mas houve uma altura em que ele escrevia coisas excelentes atrás de coisas excelentes, e por muito que refilemos, será sempre um dos melhores argumentistas de Doctor Who.

O importante aqui é que este episódio é uma autêntica ode ao conceito das viagens do tempo, tão brilhantemente executado que dói. E recebe pontos bónus por introduzir uma das criaturas mais assustadoras de sempre, os Weeping Angels.

Nem sequer há muito mais a dizer, apenas que Blink é quase universalmente aceite como um clássico instantâneo da série, e a mitologia que é relevante de saber é toda bem explicada, ou sugerida, neste episódio de argumento eficiente e muito bem auto-contido.

 

s04e10 - Midnight (Tenth Doctor)

 

Outro episódio magnífico e perfeitamente auto-contido. Desta vez temos Doctor, mas não temos companion, e temos e não temos monstro da semana. Temos, porque ele aparece, tecnicamente falando, e é uma das maiores ameaças que o Doctor já encontrou.

Mas não temos porque nunca o vemos. Apenas vemos as consequências dos seus actos e das suas acções, e assistimos em primeira mão àquilo que a criatura é capaz de fazer.

O episódio torna-se verdadeiramente assustador, pois é uma das poucas vezes em que o Doctor perde. Mas a sério. Raramente vemos o Doctor chegar a uma situação em que fique tão irremediavelmente perdido. Em Midnight só se safa por factores completamente externos, e passa uma boa parte do episódio completamente indefeso e, de certa forma, capturado e incapaz de fazer o que quer que seja.

Não é a melhor forma de apresentar os conceitos da série a alguém, mas é sem dúvida uma das melhores formas de mostrar o quão excepcionais conseguem ser os episódios desta “pequena” série britânica de ficção científica, já com mais de cinquenta anos.

 

s05e01 - The Eleventh Hour (Eleventh Doctor)

 

Com a passagem da quarta para a quinta temporada, com os especiais de despedida do Tennant pelo meio, o próprio paradigma da série mudou ligeiramente.

De repente muda a equipa técnica, o Doctor, o(s) companion(s), o estilo, o visual... O próprio orçamento aumenta e permite mais algumas brincadeiras. Entram Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill e Steven Moffat. Os episódios começam a ter histórias mais transversais às temporadas, e torna-se complicado escolher um episódio suficientemente bom e desligado do resto para ser visto como por alguém de fora.

Mas este episódio é o primeiro dessa era, e novamente um episódio que introduz o Doctor à sua companion (e ao seu futuro companion), e portanto, por arrasto, à audiência. Ainda por cima é um Doctor diferente do habitual, com o mais novo actor de sempre a encarnar o papel, e com a sorte de ter um argumento sólido e com bom ritmo.

 

s05e10 - Vincent and the Doctor (Eleventh Doctor)

 

Nada melhor para convencer alguém do que um dos episódios mais emotivos da série. O Doctor e Amy viajam até ao tempo de Vincent van Gogh para o ajudarem a enfrentar uma criatura alienígena que é basicamente um lobisomem invisível.

Tudo muito simples e linear até aos momentos finais, quando o Doctor decide levar Vincent, de mente frágil e cheia de preocupações relativamente a si próprio e ao seu trabalho, para o futuro. O nosso presente. O Doctor leva-o a visitar o Musée d´Orsay, onde Vincent vê as suas obras e ouve o curador (o Bill Nighy é outro tesouro mundial que anda por aí) a referir-se a ele, van Gogh, como o maior pintor de sempre e um dos melhores homens de sempre.

Esses momentos finais são emotivos e, sejamos sinceros, bonitos como o raio. O que só piora o contraste com a conclusão da história, em que a Amy aprende que nem tudo pode ser reescrito, e que há acontecimentos que são impossíveis de evitar. Conseguir transformar isso numa mensagem positiva é o grande trunfo do episódio.

 

s08e05 - Time Heist (Twelfth Doctor)

 

Como único representante da era de Peter Capaldi no papel principal, o mínimo que deviam exigir de mim era que escolhesse o melhor episódio de todos, ou o meu favorito. Desenganem-se. Para além de, até agora, ter menos episódios que os seus dois antecessores imediatos, já está muito longe do Doctor desconhecido que foi o Eccleston.

É normal que já não existam lá muitos momentos de apresentação, ou leves em termos de mitologia. O mesmo aconteceu com Matt Smith, reparem que os dois episódios que escolhi da sua era são da primeira temporada que passou no papel.

Time Heist é, isso sim, uma boa introdução. Não está demasiado ligada a nenhuma história grandiosa em particular, e até separa o Doctor e Clara da Tardis, juntando-os a dois companions extras, o que nos obriga a conhecer melhor as personagens.

A reviravolta final pode confundir os espectadores menos habituados a deambular pelos meandros da ficção científica, mas está tudo explícito o suficiente para que isso não seja um problema demasiado grave.

 

E pronto, está tudo. Sem pensar demasiado nisso, os episódios que vos apresentei hoje e na semana passada seriam a minha escolha, mas é óbvio que opiniões há muitas. O importante é continuarmos a apoiar e a divulgar a série, que bem merece, por muitos altos e baixos que atravesse... Portanto se têm sugestões diferentes, não hesitem!

 

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso