Estamos a pedir de mais?

12-11-2014 19:08

Verdadeiros Whovians durante o tempo em que estão a sair episódios novos têm uma hora por semana, fixa e sagrada, para ver o que se passou naquele pequeno espaço temporal para nós e desprezável dentro da TARDIS.

O certo é que há uma onda de fãs que aguarda ansiosamente por toda e qualquer aventura que o Doctor queira partilhar connosco. Mas ao fim deste tempo todo é mais do que certo que já muita coisa foi explorada, muitos foram os seres encontrados, já muitas foram as voltas que tivemos de dar às nossas pequenas mentes humanas para perceber os meandros do que se passa.

Depois de histórias de amor em ordem inversa – que matam o coração a qualquer um – amigos que são afinal sogros ou pequenos deslizes que nos falam de quão bom pai o Doctor é, qualquer um vê um episódio de pé atrás, a tentar perceber as referências à serie antiga, as dicas do que se vai passar a seguir, tudo é bem analisado.

 

Nesta última temporada, com um Doctor novo, fomos notando várias referências, por vezes bem mascaradas, às séries antigas: seja o Doctor a oferecer um Jelly Baby, a falar de inimigos antigos ou até mesmo o remake do assalto de Cybermen a sair de St. Paul's Cathedral.

Mas mais uma vez estamos habituados a ter de prestar o máximo de atenção a tudo para que não percamos qualquer coisa que pode ser relevante, qualquer coisa que pode ser a pista que precisamos para descobrir o que se passa com aquela pulguinha que temos atrás da orelha. Porque há sempre pelo menos uma e é um dos motivos que faz esta série tão viciante.

Há um ser que não conhecemos, há um desaparecimento que ninguém explicou, há uma resposta que o Doctor se recusa a dar, tudo isso eventualmente volta e nós estamos completamente à espera de quando vão repegar naquilo que fica numa listinha de pontas soltas.

O exemplo mais flagrante nos últimos tempos é a história de quem seria a Missy. Uma personagem que nos aparece a receber as pessoas que tínhamos acabado de ver morrer, a ter claramente uma relação qualquer com o Doctor e nós sem percebermos o que se passava ali.

Rapidamente começaram as teorias e muitas foram as histórias desenterradas que pudessem explicar o que se passava. Falava do Doctor como sendo seu namorado, tinha uma postura ao mesmo tempo engraçada e assustadora, com as suas maneiras aparentemente simpáticas mas de alguma maneira duvidosas. Aqui há também que dar o devido mérito a quem o tem: a representação de Michelle Gomez é qualquer coisa única, consegue dar um ar goofy e assustador à personagem, acho que poucos seriam os actores capazes de tal proeza, e muito menos com tanta mestria.

Uma paixão antiga do Doctor? A River? A própria TARDIS? O Valeyard (sim, também ainda estamos à espera)? Clara? Rani? Romana? As teorias eram muitas mas onde quer que houvesse esta discussão havia sempre a mesma premissa: o Master não há-de ser. Master, Mistress, Missy: é demasiado simples para ser a solução.

Pois surpresa das surpresas: é realmente o Master quem anda agora aos beijos ao Doctor e ainda que sob uma forma feminina não deixa de lado as ideias de conquista mundial.

Mas isto só acaba por comprovar que a comunidade whovian está ou mal, ou bem, habituada, nem sei ao certo. Tudo seria uma possibilidade, de alguma maneira estranha até já podia ser uma nova regeneração do Doctor, quem sabe. Toda e qualquer possibilidade foi investigada, o caminho simples não iria ser o certo,de certeza. E aqui Moffatt ganhou – mais uma vez. A solução mais óbvia ser a verdadeira é o plot twist que já não estávamos à espera. No momento foi chocante mas até pareceu pouco. Onde estão as milhentas voltas que nos deixam sem norte? Foi tão puramente simples. Depois de  tanta coisa que não passaria na cabeça de ninguém e que já vimos a acontecer, incluindo encontrarmos o Doctor depois da própria morte ou vermos a River a parar o tempo para evitar esse momento, estamos sempre à espera de mais, sempre a querer estar um passo à frente do que se vai passar. Saber de antemão qual a reviravolta que vamos sofrer no próximo episódio.

Mas parece que apesar de todos os esforços que fazemos, todos os detalhes que recolhemos, numa série tão imprevisível como esta nunca sabemos o que vai acontecer, seja a coisa mais natural do mundo ou a mais estranha para nós vai ser sempre surpreendente.

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, coladoradora do Whoniverso