Face The Raven - Review

24-11-2015 16:08

Mas que episódio! Não sei quanto a vocês, mas até compensou os episódios mais fracos a meio da temporada. Face the Raven inclui o regresso de Ashildr e de Rigsy, e também o regresso das consequências reais para os companions. Ups, spoilers, mas a Clara morre no fim. Já toda a gente sabia.

O que nem toda a gente esperava era o brilhantismo com que Capaldi consegue expressar a fúria mal contida da sua personagem, uma raiva verdadeiramente assassina. Matt Smith fazia um bom Doctor chateado, mas era mais enérgico, mais mexido, mais tudo… Capaldi limita-se a lançar olhares penetrantes, a nunca elevar a voz, e fazer ameaças que nós sabemos que ele é capaz de cumprir.

Foi para este momento que o Twelfth Doctor foi caracterizado como mais implacável, mais frio e mais desagradável do que a generalidade das suas encarnações interiores. Quando este Doctor faz uma ameaça, nós sabemos que não é vão, e que não é um mero prenúncio de um esquema que vai fazer os seus inimigos explodirem consigo próprios; sabemos, isso sim, que é uma ameaça real, de certa forma muito humana, tal é o peso emocional que carrega, mas com uma intensidade que só podia ter sido dada por este Time Lord em particular, que já viveu tanto tempo, sobreviveu a tanta coisa, e que nós já vimos enfrentar tantos obstáculos.

Mas estou-me a adiantar. Tudo começa quando Rigsy liga para a Tardis por causa de uma tatuagem que tem no pescoço e mostra um relógio em contagem decrescente. Um conceito tão simples e tão eficaz que me espanta que nunca tenha sido usado.

O Doctor, Clara e Rigsy procuram então, e encontram, uma rua escondida no meio de Londres, uma espécie de abrigo de refugiados alienígenas, tudo habilmente escondido de olhares alheios por curiosas medidas de camuflagem.

A surpresa é quando Ashildr, perdão, Me, se revela como chefe do sítio. Curiosamente, embora não tenha gostado particularmente da actuação de Maisie Williams em qualquer dos episódios em que entrou, aqui até deve ter sido onde esteve melhor, e pelo menos serviu para personificar um fantástico momento de qualidade narrativa: ninguém explica como é que ela chegou àquela posição, nem como raio arranjou a entidade sombria e aparentemente gasosa que faz as tatuagens dinâmicas e, enfim, mata pessoas. Mas isso não faz falta, pois não é o foco da história. São apenas pormenores que dão realismo à personagem.

No final revela-se o mais ou menos esperado: que tudo não passou de um esquema relativamente convoluído para roubar a chave da Tardis e enviar o Doctor para algum sítio. Só que ninguém tinha contado com as tendências auto-destrutivas de Clara, que obriga Rigsy a transferir a tatuagem para ela, efectivamente quebrando o contracto da sombra com Ashildr, impedindo-a assim de evitar a morte de Clara, que tem de face the raven.

É um momento chocante, emocional, e que foi só ligeiramente exagerado. Correu bem, digamos, e acho que foi um bom final para a personagem, especialmente tendo em conta o caminho que vinha a seguir ao longo da temporada. E a melhor parte é que a morte de Clara deu-nos aquele que será, muito provavelmente, o melhor Capaldi de sempre. Um Doctor que teve de aprender a ser mais humano e a criar mais empatia, tudo graças a Clara, de quem se tornou extremamente dependente, mas que também acabou por tornar numa reflexão dele próprio. Um Doctor que vê os seus actos a levarem, quase directamente, à morte dessa mesma Clara.

O que raio é que ele pode pensar? Ele tinha razão em estar chateado, e tem razão em ser uma pessoa sempre às avessas com o mundo! Afinal, quando tudo parecia correr bem, acontece isto. A reacção é a esperada, aquela fúria fria que mencionei lá em cima, dirigida a Ashildr, e uma atitude implacável do Doctor ao enfrentar o seu destino de ser teletransportado para um sítio completamente desconhecido.

Neste ponto não sabemos quem está por detrás de tudo isto, embora possamos suspeitar dos Time Lords, nem sabemos exactamente o que vai acontecer. Apenas sabemos que este foi um dos melhores episódios da temporada, que até conseguiu dar um final decente a Clara, uma personagem que já tinha passado o seu prazo de validade, e que Gallifrey está próximo. Mas não digam a ninguém que eu disse isto...

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso