O que esperar de "Class"

20-03-2016 10:56

A morte de Elisabeth Sladen, em 2011, levou a um fim antecipado de The Sarah Jane Adventures. Perdeu-se uma das caras mais reconhecíveis e apreciadas da série, tanto pré como pós 2005, e com ela o último spin-off de Doctor Who.

É compreensível que o interesse tenha diminuído, especialmente tendo em conta que The Sarah Jane Adventures estava a conseguir ter um sucesso que Torchwood, por exemplo, nunca chegou a atingir. Mas ambos eram complementares da série à sua maneira: se o último era Doctor Who para maiores de dezoito, com asneiras, nudez, sexo e histórias mais emocionalmente pesadas, o primeiro era Doctor Who para crianças, com momentos negros, mas lidados com cuidado, e um tom muito mais leviano e inconsequente.

Mas quatro anos depois, em Outubro do ano passado, a BBC anunciou que iam criar um novo spin-off, de nome Class, direccionado a um público mais jovem e escrito por Patrick Ness. Passado na escola que Susan frequentou e onde Barbara, Ian e Clara foram professores, Coal Hill, tem estreia marcada para o Outono deste ano, e já foram feitas várias promessas: oito episódios, nenhuma aparição de Jenna Coleman, nenhum vilão dos mais reconhecidos, e pelo menos uma pequena aparição de Peter Capaldi.

Isto é fácil de perceber. Quando The Sarah Janes Adventures acabou, estava-se em plena época de Matt Smith, o Doctor mais apelativo para crianças de sempre. Ele próprio uma criança grande durante a maior parte do tempo, não era preciso criar nada em especial para esse público: podiam ver a série principal e ficar mais do que satisfeitos.

 

Mas a chegada de Peter Capaldi mudou muito as coisas, com Moffat a apostar num tom mais negro e numa personalidade mais agreste, a série claramente deixou de ser propriamente apelativa para um espectro de público mais alargado. Faz todo o sentido criar algo para os mais novos.

Falta só saber o que esperar. É que os spin-offs de Doctor Who costumam ter algo muito simples em comum, e que facilita o sucesso e a aceitação: personagens familiares. Torchwood teve John Barrowman como Captain Jack, e The Sarah Jane Adventures teve Elisabeth Sladen como Sarah Jane. Class, por sua vez, vai ter um protagonista novo, num cenário que apenas é relativamente familiar.

Qual é a ideia? Não tenho a certeza. Acho que será um desperdício se simplesmente usarem esta nova série como “Doctor Who para miúdos” e mais nada. Especialmente tendo em conta o quão na moda estão os filmes/séries interligados e inseridos dentro dum Universo maior. É expectável encontrar ligações e repercussões, e Doctor Who já o fez antes, num memorável momento em Torchwood em que Jack corre em direcção à Tardis, algo que tem seguimento num final de temporada tripartido em Doctor Who. Noutro episódio, The Stolen Earth, há um cross-over mais explícito entre as três séries, com personagens dos spin-offs a aparecerem.

Tenho esperança que não seja só isso. Conseguem imaginar o quão criativo e espectacular podia ser um spin-off que efectivamente avançasse o enredo da série principal? Sem sequer contar com participação relevante de personagens da série principal? Seria espectacular! E seria dar uma lição à Marvel, e à sua dicotomia Agents of S.H.I.E.L.D./Agent Carter, tão bem construída que mesmo com uma série inteira para ela, só quando Carter aparece em flashback na série principal é que é útil para o enredo.

Não há nada de inerentemente errado num spin-off ter a sua própria história e os seus próprios enredos, e partilhar apenas temas, estrutura narrativa e a ocasional personagem; mas o universo de Doctor Who é o sítio certo para experimentalismos de outro nível… Portanto eles que venham daí!

 

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso