The Witch's Familiar - Review

29-09-2015 20:30

Obrigada Moffat! Obrigada por não teres estragado um primeiro episódio brutal com um segundo mauzinho.

Desta vez as coisas correram bastante bem e este início de temporada está a fazer palpitar corações só por terem de esperar mais uma semana pelo próximo episódio. A brincadeira de termos episódios bipartidos dá nisto: vamos fazer um grande episódio, paramo-lo num momento em que as pessoas estavam a ficar agarradas e pronto, damos-lhe uma semana de ansiedade! Isto até nos faz mal, mas enfim!

Primeiro: ninguém me convence que se quiserem ter um sucesso ridículo é fazer um spinoff com a Missy! Esta personagem de cada vez que aparece deixa-nos de boca aberta, queixo caído e coração a saltar. Ela é puramente má, não nos deixemos enganar, mas consegue dar-nos a volta a todos com os suas saídas de génio e os comportamentos divertidíssimos (fazer cócegas a Daleks foi de génio)!

Dito isto: o episódio foi realmente bom! Continuaram a apostar no jogo Missy-Clara e é muito bem apanhado, a dinâmica das duas funciona bem (embora para mim tenham tido algumas cenas em que a Clara foi muito pouco natural) mas claro que a Missy é completamente dominante e é por isso que funciona tão bem!

Já o Doctor anda numa luta com o Davros, quase durante o episódio todo a ver ao certo o que anda por ali a fazer. São dois polos de acção que se intercalam muito bem mas aqui o protagonismo acabou por ser dado ao lado das meninas: mais coisas a acontecer, mais informação a ser transmitida e é mais por ali que a história acontece. Mas tanta coisa, tantos momentos bons!

Começar com a Clara atada de pernas para baixo enquanto a Missy afia uma estaca de madeira é no mínimo curioso! O que é que ela está a fazer? Porquê? Eu acho que neste ponto já podemos dar uma justificação curta de “É a Missy!”. Mas aproveitar uma coisa tão simples como esta, quase até meio caído do nada, para nos dar umas explicações de como é que a Missy se escapa sempre destas situações em que devia ter sido eliminada, sim senhor, foi um bom toque! E uma explicação perfeitamente legítima, estou orgulhosa!

Mesmo assim, e perdoem-me os fãs acérrimos da Clara, mas aquele momento – em que eu já me estava a rir assim que a cena começou – em que a Missy atira com ela para dentro do fosso a ver a altura… “Hum, 20 feet!”, isto é genial!

Entrarem pelos esgotos parecia uma coisa muito à filme, mas achei logo “banal” para a série que é e para a personagem que a sugeriu, tinha de haver algum twist. Os esgotos são sítios para onde vão os resíduos das nossas pessoas, até aí tudo legítimo. Que esses resíduos permaneçam vivos? Isso já não é tão engraçado! De todo! Não sei quanto às restantes pessoas mas ter esgotos que não são bem esgotos, que gemem e mexem… Que coisa mais nojenta! Aquele aspecto todo viscoso e sujo mas mexido e com vida: Sr. Moffat, anda a ter ideias muito estranhas!

Mas se por um lado a Missy e a Clara querem voltar lá para dentro nem têm ideia do que o Doctor anda por lá a fazer. Neste caso acho que é importante referir o bem que ficou sentadinho em modo Dalek. Não devo ter sido a única a reparar que ele estava muito contente enquanto andava a deslizar por ali, de um lado para o outro. Estranho? Sim. Awesome? Também! 

Até porque Capaldi solta do seu sotaque mais intrínseco de vez em quando e dá-lhe aquele ar refilão! Mas claro que os momentos engraçados são os que têm mais potencial para acabar muito mal. Chamar aquela democracia de cobras, ou Colony Sarff se quiserem, que aparece do nada e cobre o Doctor de uma ponta à outra faz-me comichões. Eu por natureza já tenho problemas com esta personagens, aparecer assim sem se dar por ela e para cobrir alguém de cobras é uma coisa que dispensava, mas isso sou eu. Lá que é uma boa jogada, é! Mas é tão nojento. Em compensação o Doctor faz um ar adorável-traquina quando vê que o plano não deu certo! Parece mesmo um miudo pequeno que não conseguiu roubar doces!

Já a Missy, que andava muito sossegadinha, tem de voltar a brilhar. Nada melhor que rebentar com um Dalek - “Weeeee” - e aproveitar a carcaça para meter a Clara lá dentro. Se havia gente com saudades da Souflé Girl com falta de ovos: aqui está ela!

Curiosa é a maneira como os circuitos Dalek ligados à Clara funcionam. A tradução humano-Dalek é no mínimo curiosa: um simples “Eu sou a Clara” resulta em “Eu sou um Dalek”, já um “Amo-te” resulta, claramente, num “Exterminate”. Perceber um bocadinho mais de como funciona a sociedade e os mecanismos dos Dalek torna-se interessante e construtivo para a história. Verdade seja dita, estávamos no sítio ideal para que isso acontecesse.

A reviravolta final estava quase pronta: Doctor e Davros à conversa, o segundo claramente debilitado, ambos numa conversa calma como dois velhos amigos. Ter um Davros de olhos abertos, com um ar mais humano do que se lhe tinha visto, uma piada que une ambos em gargalhadas, o fim de uma personagem que já acompanha a série há tanto tempo… Ou não!

Um roubo de energia de regeneração – ligeiramente previsível, só quem nunca viu o Davros é que acha que ele pode ser um tipo porreiro - deixou-me preocupada. Isto tem antecedentes de dar asneira, ainda agora recebeu a oportunidade de continuar por mais 50 anos a mostrar-nos as suas aventuras e já anda a gastar assim a energia que tanta falta lhe (nos) faz?

Felizmente a Missy salva o dia, o Doctor mostra que é mais esperto que tudo o resto junto e as coisas correm bem. Trazer à tona aquele monte viscoso de nhanha Dalek não me parece a melhor maneira de acabar o dia. Espero foi mas este episódio com estas brincadeiras teve momentos tão estranhos e nojentos! Foram inteligentes e bem pensados mas toda aquela gosma a gemer…

Entretanto a Missy ainda tenta que o Doctor mate a Clara mas isso são coisas normais do dia a dia!

Agora: o fim foi assim todo fofinho e adorável, o Doctor ensina o conceito de Misericórdia ao Davros, a Clara não morre, ambos voltam para a TARDIS para as suas aventuras, mas então e a Missy que ficou lá pelo meio? “I just had a very clever idea!” O que foi não sabemos, mas de certeza que a voltamos a ver, a ser maravilhosa e fascinante como é!

Agora: atentar que o Doctor anda em crescente de estilo! Era de prever que andasse ali qualquer coisa de novo. Arranja uma chávena de chá sabe-se lá de onde, senta-se na única cadeira existente em Skaro (porque é que há uma cadeira em Skaro?), enfim, o Doctor a ser o Doctor, aleatório como nenhum outro. Não anda com a Sonic Screwdriver, nos momentos mais estranhos põe os óculos de Sol e por muito estilo que forneçam tinha de haver mais qualquer coisa. Pois que Sonic Glasses! Isto foi tão uma saída tão “Tennant a fechar a TARDIS com um som de trancar o carro”. Isto assim ganha um novo alento em termos de estilo, o Capaldi nunca mais será o mesmo se cada vez que precisar de fazer alguma coisa – que não envolva madeira – tiver de por óculos escuros.

Enfim, a primeira história chegou ao fim, e o resultado foi bem mais do que positivo! Nós começamos por ver um miúdo preso num campo de hand mines que engolem uma pessoa para a terra e nem sequer nos voltamos a lembrar disso. Nem sequer importa com tanta coisa interessante a acontecer. Os episódios estão divertidos, intensos e interessantes. Um óptimo arranque de temporada, com uma espera de uma semana num ponto bem pensado, uma história cheia de pequenos pormenores, pequenas explicações e dicas que ficam pendentes para ficarmos a pensar nelas.

Afinal o Doctor já foi mulher? A Missy falou num “since he was a little girl”… E a Missy tem uma filha? Também houve um momento em que o disse assim como quem não quer a coisa. Senhor Moffat, o que é que anda para aí a magicar? Nós já temos muita coisa com que nos preocupar, agora o passado apanha-nos e traz assim bombas destas? Temos de saber mais destas coisas, é o mínimo que podem fazer a fãs tão presentes e interessados, não acham?

 

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso