The Zygon Invasion - Review

03-11-2015 12:29

Tudo pode acontecer no próximo episódio, The Zygon Inversion. Depois de um episódio bem mais fraco do que a espectacular lista de sucessos que esta temporada tem tido desde o início, The Zygon Invasion voltou a elevar as expectativas. Caro Steven Moffat, se estes eram os teus planos desde o início, palmas para ti. Estás mais do que perdoado e podes continuar à frente do programa na maior das tranquilidades.

Ao trazer de volta Osgood, a revelação de como é que ela ainda está viva é simples, eficaz, e ainda a semente para o enredo desta semana (e da próxima). Desde o episódio do aniversário, The Day of the Doctor, que existem duas Osgoods, que são a personificação da paz entre humanos e Zygons, ao não revelarem qual é qual.

Missy mata uma delas no final da oitava temporada, num dos momentos mais chocantes e odiados desses dois episódios, e a outra, descobrimos agora, entra em modo furtivo, por algum motivo. Eventualmente é capturada por uma facção nada pacífica de Zygons, e pede ajuda ao Doctor, que corre sem hesitar, não apenas por Osgood, que certamente admira, mas por saber demasiado bem o que está em jogo: um massacre.

A partir daqui há vários pontos de interesse no episódio, a começar pela continuação da exploração de Clara enquanto aprendiza de Doctor, e não como simples companion: tem tido os seus próprios companions em quase todos os episódios e passa mais tempo com outras personagens do que com o Doctor, que lhe tem dado cada vez mais poder e responsabilidade em todas as desventuras em que se vêem, inevitavelmente envolvidos.

É um sinal de que confia mais nela, mas não deixa de ser uma confiança reticente, que nasce da necessidade que tem dela (já lá vou). É impossível não reparar na preocupação crescente que o Doctor sente em relação aquilo em que Clara se está a tornar. E de facto, é um tema que está a ser explorado de forma tão explícita que é fácil de acreditar que algo de muito mau vai acontecer a Clara, esta temporada, que vai motivar a sua saída do programa. Falta descobrir quais as consequências disso para um dos Doctors mais frios, e que já não consegue funcionar sem a sua ajuda…

Outra ideia fantástica é a de que as irmãs (o facto de se tratarem como irmãs é adorável) Osgood são a personificação da paz, como já mencionei. Ao recusarem revelar quem é quem, personificam as bases em que o tratado de paz foi feito: sem saber como é que pode beneficiar mais, prejudicando o outro lado, tem que chegar a um acordo igualmente bom para ambas as partes.

Todo o episódio assenta nessa ideia, de identidades e consequências, e também não é difícil de fazer paralelos com as situações de terrorismo que infelizmente presenciamos com demasiada frequência, bem como com a recente crise de refugiados. O argumento consegue tratar ambos os temas com a seriedade que merecem, nem exagerando no dramatismo, nem levando demasiado para o lado do humor.

Mas num episódio em que tanta coisa parece acontecer, fruto da narrativa tripartida entre Kate Stewart na sua viagem a Truth or Consequences, Clara e a oficial Jac, da UNIT, numa tentativa de controlar o problema dos Zygons, e o Doctor na sua tentativa de resgatar Osgood, o que mais me impressionou foi o espaço deixado para o desenvolvimento das personagens.

Osgood, em particular, foi quem teve mais sorte. De simples favorita dos fãs por ser basicamente uma fã a viver o sonho de todos nós, já tinha conseguido passar a uma das melhores personagens da série, ao ser a única a demonstrar algum tipo de compaixão para com a sua cópia Zygon, em The Day of the Doctor. Neste episódio cimenta-se, muito explicitamente, como uma personagem importante, extremamente bem caracterizada e relevante não só para o enredo, como para a série.

Mas Kate Stewart também tem os seus momentos para brilhar, embora demore demasiado a perceber o que se passa na pequena Truth or Consequences; e Clara é um bocado a grande surpresa, pois todo o desenvolvimento que supostamente vemos não é, digamos, bem da Clara.

O Doctor, esse, mantém-se mais na margem, dando lugar a várias outras personagens (todas mulheres!), um papel que também não lhe assenta mal, pois o carisma inerente à personagem e a enorme presença inerente ao actor nunca passam despercebidos, e acaba por não se perder demasiado por intervir menos do que o costume.

Além disso, a verdadeira importância deste episódio para a personagem do Doctor é o de mostrar, preto no branco, o quão dependente ele está de Clara. Aguenta-se perfeitamente nas suas pequenas aventuras inconsequentes, como vimos a semana passada em The Woman who Lived, mas quando se trata de um evento de larga escala, uma verdadeira ameaça, trazer a Clara para perto dele já é um assunto urgente. Mesmo que depois mal lhe dispense mais do que alguns segundos de atenção.

A ideia que passa é que por um lado quer manter-se de olho nela, por outro não a quer influenciar demasiado, ao mesmo tempo que já é a única pessoa em quem realmente sente que pode confiar incondicionalmente. Uma mistura explosiva, na minha opinião!

Mas nem só de personagens se fez o episódio, e a história também brilha, e de que maneira. Já vi alguns comentários quanto à escrita preguiçosa e menção a algumas falhas no enredo (porque raio é que o Doctor abandonou a Tardis?) mas estamos a falar de Doctor Who. Não pensem demasiado nisso e apreciem o episódio. The Zygon Invasion é assim mais um sucesso desta temporada, apenas manchado, na minha opinião, por The Woman who Lived!

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso