The Zygon Inversion - Review

10-11-2015 11:59

A fasquia estava elevada. The Zygon Invasion foi um dos melhores da temporada, e prometia muita coisa. Este episódio só tinha de continuar pelo mesmo caminho e tornar este two-parter um clássico imediato. De certa forma, foi o que fez. Mas como costuma acontecer quando as expectativas são demasiado altas… Ficou aquém.

Não quer dizer que tenha sido um mau episódio, antes pelo contrário. Há momentos absolutamente brilhantes, como tudo o que envolva a Osgood, os conceitos e dilemas morais, e um discurso em particular do Twelfth Doctor que permitiu a Capaldi mostrar aquilo que é capaz de fazer.

E se alguém tinha dúvidas sobre a sua qualidade e o facto de ser a pessoa certa para o papel, elas já não podem existir. Esta temporada em específico tem-se focada mais intensamente em momentos que permitem que Capaldi brilhe, e ele não hesita.

Mas e a história? Confesso que também não a achei má. Acho que a falha é mesmo o enredo secundário de Clara, que se revela, mais uma vez, demasiado importante para o meu gosto. Esse enredo secundário é para lá de ridículo, e estraga um bocado o que o resto da história, especialmente o episódio anterior, tinha vindo a construir.

Em termos simples, no final de The Zygon Invasion é revelado que Clara está presa num casulo Zygon e foi substituída por um duplo alienígena, que é basicamente uma versão maléfica da Clara, que Jenna Coleman desempenha muito bem. Só que este duplo precisa de manter Clara viva para lhe extrair informação, por algum motivo, e Clara acaba por conseguir ter alguma influência mental, tornando-se assim central para o enredo, pois só graças à informação que consegue passar ao Doctor através do seu duplo Zygon é que tudo se resolve.

No entanto, qual é a lógica disto? Ainda a semana passada vimos Zygons a lerem as mentes de pessoas para copiarem outras pessoas de forma tão perfeita que deixaram dúvidas nos soldados da UNIT, o que levou às suas mortes. O que me parece é que foi só mais um momento em que quiseram dar demasiada importância a esta personagem, ao mesmo tempo que, por algum motivo muito peculiar, a continuam a manter separada do Doctor durante a maior parte dos episódios.

Passando por cima disso, e do facto de que a Kate Stewart que aparece ser a verdadeira é demasiado óbvio para sequer ser considerado, o dilema moral que acaba por se impôr é impecável, de várias formas. A chamada Osgood Box é na realidade um conjunto de duas caixas, cada uma com dois botões. A dos humanos pode matar todos os Zygons ou detonar uma bomba nuclear em Londres; a dos Zygons pode obrigá-los a manterem a sua forma original durante uma hora ou forçá-los a manter as suas formas humanas de forma permanente. E não há forma de descobrir qual é qual.

A Clara Zygon começa por dizer que não quer saber, de forma bastante arrepiante, e prepara-se para carregar, assim como Kate, determinada em lidar com as consequências, sejam elas quais forem, se isso implicar uma hipótese de salvar a situação.

É aqui que entra o brilhantismo de Capaldi através de um discurso poderoso e muito bem escrito, que acaba por convencer ambos os lados a não carregarem em nenhum dos botões. O momento ainda ganha mais interesse com a declaração final de Capaldi que dá a dica de que já é a décima quinta vez que aquela situação acontece. Não ficou claro se já tinha acontecido no passado, em várias ocasiões, ou se aquela conversa em particular tinha acontecido quinze vezes, até que a resposta de ambos os lados agradasse ao Doctor. Pessoalmente sinto-me mais inclinado para a segunda, pois é exactamente o tipo de jogo mental e manipulação que era característico de muitos dos Doctors da série clássica.

Não deixa de ser impressionante, qualquer que seja a opção que escolham, até onde é que este Doctor está disposto a ir para manter uma situação de paz entre as duas espécies. Chega mesmo a criar um dilema que espelha um cenário de guerra e que lembra aquele que ele enfrentou, como ele mesmo diz, quando também esteve em frente a uma caixa com um botão para carregar.

Tudo acaba bem, como é óbvio… Se nos esquecermos da imensa quantidade de pessoas que morrem, e de pelo menos um Zygon que comete suicídio num dos momentos mais tristes e intensos do episódio. E também de como a mensagem que acaba por passar é a de que os Zygons são aceites para viver em paz se se conformarem com as regras dos humanos. Se havia aqui um paralelo com a crise de imigração do nosso país, degenerou para uma mensagem um pouco perigosa.

Mas tentemos não ler demasiado nas entrelinhas, por muito que estes episódios se tenham esforçado para serem activamente políticos. No geral foram bons, embora aconselhe mais o primeiro do que o segundo, e é de louvar que o programa continue a tentar inovar e a reinventar-se com cada episódio, para além de fornecer cada vez mais material excelente para Capaldi trabalhar, uma vez que é a sua actuação que tem carregado a série aos ombros. Apoiado pela mente criativa de Steven Moffat, a quem é preciso dar crédito por ter conseguido revitalizar os seus argumentos de forma muito positiva.

No fim temos ainda o bónus de Osgood que, essa sim, se revelou uma personagem fascinante, que recusou várias vezes revelar qual das versões é que era, humana ou alienígena. Impressionante, sem sombra de dúvida, e vai ser um crime se não a trouxerem de volta.

Também importante é notar que a partir de agora só faltam quatro episódios… Sobre os quais não sabemos praticamente nada. Como já tem sido habitual, dão-se muitas dicas para os primeiros episódios, e a partir de certa altura talvez tenhamos algumas fotos e sinopses, mas zero de informação, e é nesse ponto que estamos agora. O que significa que tudo pode acontecer. Eu estou ansioso, pelo menos!

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso