Under the Lake - Review

06-10-2015 12:00

Mas que promissor início de temporada! Depois de dois episódios muito acima da média, Toby Whithouse escreve um terceiro episódio que mantém a qualidade e termina com um cliffhanger dos mais emocionantes dos últimos tempos.

A história de Under the Lake até parece bastante banal: um formato de base under siege popularizado no final dos anos 60 e no início dos anos 70 pelos Doctors de Troughton e Pertwee, no qual as personagens estão isoladas num lugar ameaçado por monstros, muitas vezes já dentro da dita base.

Os monstros aparentam ser fantasmas, e nada há durante todo o episódio que desminta isso. Aliás, o próprio Doctor chega a essa conclusão, embora rejeite a noção sobrenatural de fantasma e dispare rapidamente uma balela científica vaga o suficiente para poder explicar os ditos fantasmas, e fica fascinado. Quer perguntar-lhes como é morrer, o que existe do outro lado! Chega a ser perturbador, a sua excitação com a morte.

Na altura fiquei na dúvida: será aquilo pura curiosidade científica, aquela vontade de saber mais e conhecer o desconhecido, tão típica do Doctor, ou haverá ali algo mais? Porquê tanta curiosidade quanto à morte? Estas dúvidas são ainda mais válidas quando se pensa nos últimos dois episódios e na confissão que ele enviou à Missy e que depois guardou sem explicar nada a ninguém.

Mas se no meio disto tudo Whithouse consegue manter um bom ritmo, tanto da narrativa como do desenvolvimento das personagens – a começar por uma morte logo ao início e a terminar com uma suspeita de morte algo chocante no final – é graças aos conceitos que explora e que ainda prometem muito.

Os fantasmas que não são bem fantasmas nem são o elemento mais misterioso. No universo de Doctor Who já estamos habituados a encontrar estes conceitos estranhos, e já por três vezes encontrámos algo muito parecido com fantasmas, na série moderna: os Gelth de The Unquiet Dead, os Cybermen de Army of Ghosts e a viajante do tempo em Hide. Portanto a noção não nos é estranha, e temos segurança de que vai aparecer uma explicação perfeitamente razoável.

O que é estranho é que os fantasmas só sejam hostis de vez em quando, e que estejam sempre a murmurar alguma coisa, assim como a estranha escrita que está no interior da nave. De onde veio a nave? Que escrita é aquela que a Tardis não traduz? O que é que os fantasmas estão a dizer?

A resposta à última pergunta, pelo menos, é-nos dada durante o episódio, e de forma bastante inteligente. É que há uma personagem que é surda, que comunica com os outros através do seu tradutor de língua gestual, e a quem o Doctor pede para ler os lábios dos fantasmas. Esperto? Muito esperto!

Até é preciso notar que esta é uma excelente representação de uma personagem surda, sem fazerem disso um ponto fulcral da história, nem uma característica que defina por completo a personagem, nem nada que se pareça. Comunica com os outros de forma diferente, e é tudo. Muito bem, senhor Whithouse!

Mas apesar do bom ritmo é impossível não nos sentirmos enganados quando chegamos ao final. Pessoalmente já tenho muitos calos de cliffhangers da série antiga, mas compreendo perfeitamente que este final seja doloroso para muita gente. A única coisa que posso dizer é que os cliffhangers em Doctor Who nunca foram propriamente sobre deixar no ar se o Doctor se salva, mas como, e quais são as consequências.

Neste caso vai ser a mesma coisa, de certeza. Agora que foi uma excelente forma de deixar os espectadores loucos de curiosidade? Ou se foi! E também é preciso atribuir culpas do sucesso a quem criou o aspecto visual destes fantasmas, que são perturbadores ao máximo.

Aquilo que nos resta é esperar uma semana e ver a continuação para perceber o que raio aconteceu e o que raio ainda vai acontecer.

 

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso