Amizades que perduram

03-04-2016 14:00

Doctor Who é uma série de emoções. Goste-se ou não o Doctor e companions acabam por ter uma relação especial e nascem amizades brilhantes deste enquadramento. As dinâmicas são diferentes, seja pelas personagens, seja pelos próprios actores mas há coisas que são mais do que amizades num papel e isso transparece para fora do ecrã.

Sarah Jane Smith é capaz de ser o expoente máximo disso. A única companion que encontrou quatro Doctors e que o deixava sempre, fosse que regeneração fosse, alegre por vê-la e tê-la ao seu lado.

No caso do Doctor a manutenção das amizades pode ser complicada, mas que não seja pelo processo de nunca ter bem certo com que forma é que ele vai aparecer. A passagem Eccleston - Tennant que a Rose teve de viver foi relativamente tranquila. Houve o choque inicial, houve a dúvida, mas em pouco tempo o Doctor estava ali de novo, só o corpo era uma novidade. Já no caso da Clara, na passagem Smith - Capaldi, foi algo muito mais complicado e complexo. Ver o Doctor no novo corpo não foi fácil, nem directo, nem se resolveu com umas horas e um bocadinho de força. A relação era diferente, claro que sim, mas ainda assim neste caso foi uma transição mais demorada e isso também tem a repercussão do público. Terá sido o ar mais velhote? Terá sido a dose de rabugisse? Ou o choque de tudo entre os dois?

A ligação entre Smith e Amy também foi interessante. Embora com uma história maior do que sendo apenas uma companion que se cruza no seu caminho e passa uma temporada com o Doctor, como é o caso da maior parte, a ligação da Amy ao Doctor acompanhou-a quase a sua vida inteira. Desde que era uma pequena moça até que, querendo ou não, se torna sogra dele. Mas é inegável que depois dos desvarios da Amy de se atirar a ele, a amizade perdurou e a relação era bonita de se ver.

Uma amizade que também se notava ser bem mais do que um trabalho a fazer foi no caso de Catherine Tate com David Tennant (ou Donna Noble e o décimo Doctor). O picanço que há entre eles e que começou logo no primeiro guincho a bordo da TARDIS (“What?!”) nunca parou e sempre foi algo que deu uma força gigante às personagens e à sua relação. Não havia superiores ou inferiores ("TARDIS. Timelord. Yeah!" - "Donna. Human. No!" ), havia muita gritaria e discussão ( "Oh, salt is too salty." ) , mas as coisas apareciam feitas e completavam-se de forma maravilhosa. Este é talvez o caso em que nos tempos pós-série se nota a perpetuação da amizade que unia os actores, para além das personagens. Vários foram os trabalhos que abraçaram juntos, entre teatro, especiais do Comic Relief, o que for, e a cumplicidade sempre foi evidente em cada um deles.

E entenda-se: tenho mais experiência com as temporadas recentes, mas no caso antigo isto também acontecia. E mesmo hoje ainda vemos com alguma frequência, mais que não seja, os três Doctors – Quinto Doctor, Peter Davison, Sexto Doctor, Colin Baker, e o Sétimo Doctor, Sylvester McCoy – que em especiais e aparições aleatórias têm muita tendência a aparecer juntos. O Tom Baker já é um caso mais à parte.

Enfim, a base final é só uma: a série roda muito à volta das emoções, e as ligações que o Doctor faz são essencialmente muito fortes, seja dentro seja fora do ecrã. Até nós somos influenciados e a série cativa e liga-nos em grupos de fãs, em cosplay e eventos do género. Para eles, que vivem as coisas de forma mais directa, nascem relações que não se restringem a um trabalho. E isso é mais um ponto que beneficia Doctor Who.  

 

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso