Arrepios pela espinha I

28-10-2014 17:52

Doctor Who é uma série de emoções fortes: tanto conseguimos adorar personagens, venerá-las, odiá-las, há de tudo. Mas um dos sentimentos primários que também é capaz de despertar é o próprio medo.

Os inimigos costumam ser seres estranhos que tentam dominar o nosso planeta, os nossos corpos, as nossas mentes, a nossa galáxia, todo o universo, ... Mas há alguns que estão envolvidos em mais do que isso, mais do que o simples estranho que podemos encontrar em qualquer episódio.

Há monstros que estão onde menos esperamos, com características que nunca pensámos e cuja possibilidade de serem reais nos dá uma perspectiva diferente do mundo onde vivemos, ou pensamos viver. Os medos primordiais, que nos acompanham desde o início da humanidade poderão afinal ser explicados com motivos extraterrestres? Seres que não conhecemos mas que afinal fundamentam aquela sensação estranha que temos às vezes e não conseguimos explicar?

 


 

Logo para começar bem o retorno de Doctor Who mete os manequins, que tão habituados estamos a ver espalhados por todos os cantos, a serem manipulados por Autons e a matarem as pessoas que andam tranquilamente às compras. É o exemplo perfeito do que estes autores podem jogar para nos deixarem agarrados à cadeira: coisas do dia a dia, calmas e pacatas, que damos por adquirido na nossa  segurança e de repente tudo muda.

Mas ainda assim não é um dos casos piores. De longe.

Em Silence in the Library ouvimos pelo boca do Doctor mais uma frase que nos dá que pensar: “Almost every species in the Universe has an irrational fear of the dark. But they're wrong. 'Cause it's not irrational. It's Vashta Nerada. ”

 

 

Eu quando era pequena dormia com uma luzinha de presença. Depois deste episódio ponderei seriamente voltar a fazê-lo, e de certeza que não fui a única! Atacam pelas sombras, “Not all the shadows, but any shadow”, e por isso alguém com mais do que uma sombra já sabia qual o destino que lhe estava reservado.

É provavelmente o medo mais comum, quase todas as crianças até dada idade têm problemas em aceitar a escuridão, o desconhecido, os barulhos aparentemente sem explicação. Ninguém ficou mais descansado depois de ver este episódio, afinal tem fundamento, afinal não é só a nossa imaginação. E vendo o exemplo do que realmente acontece quando este Vashta Nerada ataca – a pobre Miss Evangelista que nos diga – não é assim tão descabido que nos escondamos debaixo dos lençóis, tentemos ficar muito quietinhos e sem chamar a atenção.

 


 

Mas não só na escuridão há medo. O ser humano teme o desconhecido de uma maneira geral e aqui lidamos exactamente com criaturas que não conhecemos, que não nos fazem sentido, que não deviam existir para que nos sentíssemos mais seguros, mais protegidos.

Mas e se aquilo que mais nos pode assustar, que automaticamente sabemos que nos vai fazer mal for exactamente o que não nos conseguimos lembrar? Se depois de vermos à nossa frente o que mais tememos, viramos as costas e já nem sabemos que o vimos?

E se nos apercebermos que o mundo está cheio de seres que nos podem transportar para outras eras, que se mexem com uma velocidade incrível desde que não estejamos a olhar para elas. Como é que continuamos a nossa rotina diária se os encontramos em todos os cantos?

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, colaboradora externa do Whoniverso