As aventuras áudio

Diz-se que quando um actor deixa o seu papel em Doctor Who, não saiu realmente deste Universo.

Para além de haver sempre a possibilidade de voltar à série, as aventuras áudio esperam por quase toda a gente.

São vários os Doctors e companions que se limitaram a transitar da televisão para o áudio, continuando as suas personagens. Os Doctors em especial, do Fourth ao Eighth, nem sequer hesitam e continuam as suas aventuras, ainda hoje!

Se para o Doctor de Tom Baker isto fez pouca diferença, pois já era o Doctor mais reconhecido de sempre, para os seguintes, que tiveram a infelicidade de existir durante a fase de declínio do programa, isto significou muito.

Vejamos o caso do Sixth Doctor de Colin Baker, que pode finalmente mostrar-se ao mundo como estava planeado. Durante a sua estadia no papel tornou-se no Doctor mais odiado de sempre. Arrogante, despreocupado, impulsivo e a começar por tentar estrangular a companion da altura, não há muita gente que tenha ficado com grande imagem deste Doctor.

E no entanto o plano não era esse. Colin Baker sofreu por causa dos cortes orçamentais, e da pressão que já na altura se fazia para cancelar o programa, assim como de um mau tratamento em termos de argumentistas, que não se conseguiram unir para criar um arco narrativo coerente, tornando-o num Doctor completamente incoerente e que precisava de mais tempo para que tudo se resolvesse.

Era suposto começar desagradável e lentamente ir-se tornando mais agradável. Começar como um Doctor mais negro e impetuoso, mais alienígena, e tornar-se mais humano. Tal como aconteceu com o First Doctor. E com o Twelfth Doctor. É uma técnica que funciona, quando feita como deve ser. E o Sixth Doctor não teve essa sorte, sendo escorraçado do programa sem grandes cerimónias.

Foi nas aventuras áudio que Colin Baker se instalou e deu ao mundo o melhor Sixth Doctor de sempre, a cumprir o plano original e a tornar-se rapidamente um dos Doctors mais adorados pelos fãs que acompanham as aventuras áudio. Aliás, as aventuras áudio são largamente reconhecidas como o palco onde os Doctors “menores”, os mais mal vistos e com menos tempo de antena na televisão, conseguem brilhar.

De tal forma que a grande estrela das aventuras áudio é Paul McGann, com o seu Eighth Doctor, que só teve direito a um filme, que fracassou largamente. No entando, sendo um fã do papel do universo whoviano em geral, nunca deixou de se envolver, e as suas aventuras áudio são frequentemente classificadas como as melhores. Além de que foram classificadas como parte do canon na prequela a The Day of the Doctor, The Night of the Doctor, em que antes de regenerar, o Eighth Doctor menciona os nomes de todos os seus companions, a maior parte apenas conhecidos de aventuras áudio.

Eu um dia vou ouvir pelo menos algumas, até porque parecem estar mais vivas do que nunca. Depois do anúncio de uma série de aventuras com a UNIT de Kate Stewart e Osgood, foi a vez de chegarem notícias sobre duas novas séries: uma de Torchwood, trazendo de volta John Barrowman como Captain Jack, e uma de River Song, trazendo Alex Kingston de volta para o papel.

Interessante? Muito. Falta saber por onde começar! Gostava de ouvir tudo, mas isso é praticamente impossível (se bem que...). Sei que estas novas vou ouvir de certeza, assim como as aventuras do Sixth e do Eighth Doctor, para lhes fazer jus, mas dos outros não sei, talvez fique pelas histórias mais conhecidas? Pelas mais especiais? Pelas mais bem classificadas pelos fãs? Não sei mesmo.

Agora, o que aconselho vivamente é a não negarem esta forma de contar histórias, que já é quase tão importante para o universo de Doctor Who como a própria série de televisão. Investiguem, descubram qualquer coisa, e não hesitem em ouvir algumas. Eu vou fazer o mesmo, sem dúvida.

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso