Crenças - as deles e as nossas

22-10-2014 18:45

Falar de religião não é fácil, mas é um tema popular. E, tal como a mitologia, é um tema frequentemente utilizado numa história, com vários graus de sucesso. Doctor Who, na minha opinião, não tem as religiões e mitologias mais complexas e interessantes, mas ganha pontos pela variedade e (relativa) coerência.

São vários os sistemas de crenças apresentados ao longo das 250 histórias já existentes, mas o que a série faz melhor é algo que eu gosto muito de ver em séries, filmes, livros e contos: explicações das nossas mitologias e das nossas religiões.

Um exemplo bastante curioso da história mais recente do programa é The Beast, de The Satan Pit: uma criatura gigante, vermelha, com cornos, aprisionada nas profundezas ardentes de um planeta e de natureza maléfica, que se identifica como a causa da nossa representação do Diabo, assim como do equivalente para várias outras espécies.

Claro que no final é derrotado e nunca mais ouvimos falar dele, mas de onde veio este monstro? Que poderes tinha ele exactamente? Seria mesmo algum tipo de entidade maléfica análoga ao nosso Diabo?

Não sabemos. Mas sabemos que tem um filho, Abbadon, um monstro gigante aprisionado no Space-Time Rift em Cardiff e acidentalmente libertado pela equipa de Torchwood depois de devidamente manipulados pelo servo da criatura.

Mas nem só de deuses e demónios se faz história: existem várias instâncias de minotauros, ou criaturas parecidas, como é o caso do que aparece em The God Complex, com o Eleventh Doctor. O hotel onde está aprisionado até é uma espécie de labirinto e tudo!

No entanto, falando do The Beast é impossível não falar nos Ood, aparentados dos Sensorites, e que são um exemplo interessante de algo parecido com uma religião. Quando o Tenth Doctor os encontra em The Impossible Planet, conhece-os como servos profissionais e adoradores do The Beast. A forma como agem é digna de qualquer culto.

Não são o único culto que o Doctor encontra nas suas viagens, nem o The Beast é a única criatura ligada às religiões terrenas que conhece. Durante a Time War, por exemplo, o Eighth Doctor morre e escolhe o tipo de regeneração que vai ter graças a um elixir da Sisterhood of Karn, como se poder ver no minisode The Night of the Doctor. E um outro Time Lord, conhecido por The Monk, finge ser um monge, na Terra, ainda durante a época do First Doctor.

O interessante, no meio disto tudo, é a abertura que a série sempre parece ter tido relativamente a estes assuntos. Assumidamente ficção científica há muito tempo, embora se possa facilmente argumentar que é fantasia, a série nunca teve medo de falar desta temática, das mais variadas formas.

Religiões inventadas ou representações mais ou menos rigorosas de religiões reais, mitos que se demonstram realidade, e explicações bizarras para crenças comuns, há de tudo um pouco ao longo dos mais de cinquenta anos de história do programa. E é incrível ver como os monstros da série têm um papel tão importante em tudo isso.

A iconografia dos Weeping Angels, por exemplo, tal como do The Beast de que já falei, é demasiado óbvia. Os cultos como a Sisterhood of Karn ou os presentes em The Fires of Pompeii e em The Rings of Akhenaten, têm tanto de mágico como de assustador.

E é por isso que a religião e a mitologia têm sido tratados com tanto sucesso na série: sem medos, mas de forma discreta. Já o faz há muito tempo e assim vai continuar! Ou será que Missy e a Nethersphere são algo mais directamente relacionado com isto, e Steven Moffat vai arriscar uma demonstração mais polémica de como tudo funciona neste Universo? Eu acho que não, mas é esperar para ver!

Artigo escrito por Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso