E depois de Who?

27-07-2015 09:54

Doctor Who é a série mais antiga que existe. Há mais de cinquenta anos que faz parte do imaginário do público e inevitavelmente já foram muitas as pessoas que tocou, de uma maneira ou doutra.

Milhares e milhares de fãs, espalhados por todo o mundo, com todas as idades possíveis, que seguem mais do que uma série engraçada que se vê durante uns meses, já é uma presença constante ao longo de quase uma vida inteira, para muitos casos.

E se para nós, que vemos há muito ou pouco tempo, que acompanhamos e esperamos com (alguma) calma as novas temporadas Doctor Who, esta série tem relevância, qual será a importância que tem e/ou teve na vida de quem passou realmente por lá? Já são dezenas de actores a fazerem parte desta grande equipa, ao longo dos anos. Como é que DW alterou ou influenciou a vida de todos estes profissionais que por lá passaram?

Por ter a dimensão que tem, desde o seu início, fazer parte da equipa desta série era um passo importante. Reconhecimento, carinho do público, possibilidade de novos trabalhos? Tudo isto eram boas hipóteses para um actor mas nem sempre as coisas correm como planeadas.

Primeiro é fácil perceber que qualquer actor está sempre na iminência de ser adorado e odiado. Às vezes a balança é equilibrada, outras vezes pende para um dos lados. Em Doctor Who o caso não é diferente: houve personagens que se tornaram muito queridas do público, quase de forma unânime, e outras pelas quais só se esperava que saíssem. Isso também pesa para a imagem que ficamos de dada pessoa. Eu, pessoalmente, verei com todo o gosto alguma coisa que tenha Sylvester McCoy (sétimo Doctor) e só com muita dificuldade verei algo com a Carole Ann Ford (Susan Foreman).

Também podemos ver, até pelos dias de hoje, que provavelmente são aquelas que a maior parte das pessoas conhecem, que os actores escolhidos para representar o Doctor em específico, não são mega estrelas com todo o brilho possível. São actores reconhecidos e com provas dadas de competência que levam assim um grande pulo – para fora do Reino Unido, principalmente – por estarem associados a Doctor Who. Já há uma grande aceitação por todo o mundo e poucas serão as possibilidades semelhantes de divulgação constante durante uns meses – possivelmente anos – a nível mundial.

Porque se eu, como portuguesa, só descobri Catherine Tate por ser a nossa Donna, noutros países acontece exactamente o mesmo, e não acompanhando a série, só com muita dificuldade saberão quem é esta grande actriz.

Acontece com Catherine Tate e com muitos outros que só deram a conhecer o seu potencial – ou só foi divulgado – quando a sua cara apareceu associada ao Doctor.

Outros actores não estão na mesma posição uma vez que participaram noutros projectos de grande envergadura, veja-se Alex Kingston em E.R., David Tennant em Harry Potter e Casanova ou Jenna Coleman no filme do Capitão América. Não eram tão grandes quanto ficaram, mas reconhecimento já teriam.

Aliás, o mais recente exemplo é de alguém cujo nome é pouco conhecido em detrimento da sua personagem emblemática: Arya Stark, ou Maisie Williams, já vem para Doctor Who com um historial enorme às costas. Mas para este ponto ainda temos de esperar para saber qual o papel que tem a cumprir – e as teorias que já são imensas...

Aqui Doctor Who foi mais um passo. Um passo muito importante, um salto talvez maior do que aqueles que já tinham dado e que os destacou ainda mais, sem grandes dúvidas.

Mas nem tudo são rosas e por vezes os tiros saem pela culatra. Ser uma cara de uma série que atinge milhares e milhares de pessoas também pode ter problemas. Que o diga Tom Baker, o quarto Doctor, para muitos O Doctor, que durante 7 anos foi a sua cara e corpo. Ao fim de tanto tempo a usar um cachecol que se tornou uma imagem de marca para toda a série, que mais se podia esperar que não fosse uma ligação impossível de desfazer com DW?

Em contactos com grandes públicos, durante muito tempo e por vezes a ser a primeira aparição mais a sério e a cara ficará para sempre associada àquele papel. Aquela pessoa vai estar ligada a um registo e a uma imagem em específico. Rapidamente aquilo que se esperava que abrisse portas talvez as deixe mais entreabertas ou as deixe mesmo fechadas.

Doctor Who tem uma grande influência nos dias de hoje, move milhares de pessoas e todos os dias conquista mais umas poucas. O risco tem de ser bem medido mas poucos serão aqueles que recusariam a oportunidade de pertencer a uma série desta envergadura. Sob que parâmetros, já são outras questões.

Tudo isto para salientar a relevância de Doctor Who consegue ter no público e na maneira como espectadores e directores olham para quem lá passa. Cinquenta e dois anos dão para fazer muita coisa, e todo o desenrolar da história, neste tempo todo, apenas ajuda à maneira como olhamos para novas aquisições.  

 

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso