Novo? Velho? Renovado? Sempre o mesmo...

25-01-2015 13:23

Se quando comecei a ver o Rose a curiosidade era muita rapidamente se tornou em algo maior que me obrigou a ver a série toda – a nova era até ao momento, ou seja, até ao fim da temporada 7 – no espaço de um mês. Foi demasiado bom, foi demasiado interessante e não queria perder pitada. Os episódios passavam uns pelos outros e o meu interesse continuava inabalável!

Mas se há momento para alguém começar a ver a série foi aquele: exactamente antes do grande especial de 50 anos da série! E acho que foi muito por me aperceber da gradiosidade de uma obra que consegue completar 50 anos a rodar em televisão – com pausas é certo, mas com muito mais do que televisão para contar a história – que fiquei mortinha por ver as séries antigas.

 


 

Ouvi que era louca de um lado e uma fã em condições do outro. Eu acho que é uma mistura de ambos mas aconselho todo e qualquer fã de Doctor Who a seguir-me as pisadas.

Ainda estou muito no início, infelizmente não consigo avançar ao ritmo que gostaria e acabo por estar apenas a terceira temporada – mas com tempo chegarei ao Eccleston novamente.

Mas é engraçado conhecer dois tempos numa série sobre viagens no tempo. No fundo consigo sentir-me uma verdadeira companion, a acompanhar o Doctor em vários locais e realmente em diferentes tempos. E mais a mais conseguimos ter coisas interessantes para contar.

 


 

Para quem não conhece o primeiro Doctor, um trabalho brilhante de William Hartnell, viajava com a sua neta, Susan, e dois professores da mesma, Barbara e Ian. Eu ao ver os episódios sempre me transportei para 1963 e assumia que tudo aquilo estava a acontecer no presente, nunca vi um episódio a pensar que tinham sido gravados há mais de 50 anos. Até um dia fatídico em que um dos episódios tinha uma introdução, por uma cara já velhinha que me pareceu familiar. Era William Russel, na série Ian Chesterton, uns bons anos depois de ter saído da série, já de cabelo branco e ar de avô. A minha reacção foi de completo espanto. Para mim aquela pessoa era um jovem, um homem com os seus quarenta, como é que podia estar ali com idade para ser meu avô?

 


 

Foi aí que caiu a ficha. Esta série é grande, é realmente grande! Não é só pelo tempo de sobrevivência, desde 1963 até aos dias de hoje mas é a capacidade que tem de nos envolver, de nos fazer acreditar e de nos transportar para dentro daquela TARDIS e fazer-nos voar tempo e espaço em conjunto com quem lá andar de momento.

Para além disso há um outro factor interessante em acompanhar os primórdios da série e o que se passa hoje em dia porque há coisas tão diferentes e outras que nunca mudam!

A coisa mais flagrante para mim é a condução da TARDIS. Já se sabe que o Doctor tem sérios problemas a conduzi-la mas nos tempos mais recentes a coisa até corre bastante bem. A River pode enviar um papelinho com coordenadas que o Doctor vai lá buscá-la na altura certa, a Clara pode voltar a casa a tempo de ir jantar com o Danny (onde é que todos estes tempos já vão), tempo e espaço já são bem controlados por este Time Lord. Coisa que não acontecia – de todo – no início da série.

 


 

Os lugares visitados por Hartnell não eram pré-definidos, a TARDIS encarregava-se de sair de um sítio e materializar-se noutro mas a seu bel-prazer. O tempo nunca era certo e assim que se saía de um local era quase certo não mais voltar. Ver um episódio em que há lutas por não conseguir acertar em tempo e/ou espaço e logo de seguida ver a ser um tiro certeiro e preciso é complicado de lidar. Podemos esquecer que muita coisa se passou no meio mas no fundo sabemos perfeitamente que as coisas mudam, e mudam muito.

Ao mesmo tempo que vemos coisas a mudar vemos um aumento de referências intra-série, ou seja, já há capacidade para referenciar Doctors, histórias ou situações antigas nas temporadas novas e olhando para ambas com alguma atenção vamos reconhecendo cada vez mais. Nesta oitava temporada que acabámos de ver havia uma frase que me disparava um alarme de cada a vez que a ouvia, fosse no Doctor ou na Clara: “Do as you're told!”. Não sabia bem porquê mas soava-me a qualquer coisa que conhecia de algum lado. Até ao dia em que retomei a série antiga e do alto da sua resmunguice intrínseca ouço, num só episódio, umas 5 ou 6 vezes um “Do as you're told!” saído da boca do próprio Doctor. Esse flashback, ou forward, não sei bem, é tão curioso de acompanhar. Há tantas pequenas deixas, tantos pequenos pormenores que nos remetem para a história geral de DW.

 


 

Isto acontece inúmeras vezes a que conhece a série antiga e tem atenção na mais recente aos pormenores todos que possam aparecer. Eu que ainda estou no início do início já apanho muita coisa, imagino o que não apanhará uma pessoa que conheça a série de fio a pavio.

Um dia juntar-me-ei a esse grupo de pessoas e os meus episódios serão ainda mais interessantes, a ficar de boca aberta de cada vez que me aparecer um jelly baby, de cada vez que a Sonic Screwdriver não funcionar na madeira ou sempre que a TARDIS parecer ganhar vida própria.

Há cada vez mais coisas para agarrar whovians a um ecrã sempre que há episódios novos, ou mesmo rever episódios antigos. Doctor Who consegue ser antiga, consegue ser nova, consegue mudar e manter tudo na mesma. Isto ao longo de 50 anos, com tantas mãos e tantas caras a fazer com que isto ande é um feito extraordinário. Como whovian que sou apenas posso dizer: Obrigada!

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso