Pyroviles - os monstros que passaram a segundo plano

06-10-2014 18:47

Enormes, feitos de pedra e lava, capazes de respirar fogo e converter seres humanos em membros da sua raça, os Pyroviles foram dos monstros mais imponentes que o Doctor já encontrou. O episódio em que aparecem, The Fires of Pompeii, também foi dos mais dramáticos da série, com o Tenth Doctor a não poder salvar ninguém da erupção do Vesúvio, e a Donna completamente inconformada com isso.

Mas o plano dos Pyroviles de transformar a Terra numa nova Pyrovilia, depois de Davros lhes ter roubado o planeta para os seus planos diabólicos, passaram para segundo plano. Até incluíram circuitos de pedra, e horrendos momentos de pessoas a transformarem-se em pedra, mas nada disso importa agora que Peter Capaldi, que fez de Caecilius (um negociante de mármore que comprou a Tardis como arte moderna) é o novo Doctor!

Não é a primeira vez que um actor faz mais do que um papel, em Doctor Who. William Hartnell e Patrick Troughton chegaram a fazer de vilões que eram a sua cara chapada, mas também há casos em que não é propositado e nada há que indique algum tipo de ligação entre as aparições das personagens, como no caso de Jaqueline Hill, a Barbara Wright que acompanhou o First Doctor, e que nos anos 80 fez de Lexa, a líder de um culto religioso em Meglos, uma história do Fourth Doctor em que, curiosamente, Tom Baker também faz uma versão maléfica de si próprio.

Mais tarde, Colin Baker teve o papel de Maxil numa história do Fifth Doctor, e acabou por suceder Peter Davison no papel de Doctor. No próprio episódio de que comecei por falar, The Fires of Pompeii, Karen Gillian tem um pequeno papel, para depois se tornar na companion do Eleventh Doctor!

E há mais casos. Ou seja, nada disto é estranho e novo para a série. Acontece. E quem estiver habituado a ver séries britânicas, mais rapidamente percebe o quão normal isto é – quando os britânicos gostam de um actor ou de uma actriz, nada os para, e com a típica longevidade das suas séries, é frequente que alguns actores pareçam entrar em tudo!

 

O caso de Capaldi, no entanto, é especial. Não só tinha aparecido anteriormente ao lado do Tenth Doctor, como também teve um papel relevante na terceira temporada de Torchwood, como John Frobisher, um papel intenso e com um fim pesado. Ou seja, antes de ser o Doctor, Capaldi teve duas aparições relevantes no universo de Doctor Who.

Com os fãs incapazes de não especularem – já não somos a audiência dos anos 80 – Moffat assumiu o compromisso, disse que havia um plano que já tinha de Davies, e prometeu que tudo seria explicado. Se isto foi boa ou má ideia, não sei, mas até agora tenho gostado da subtileza com que o assunto tem sido tratado: uma leve referência em Deep Breath, na estreia de Capaldi no papel durante mais do que vinte segundos, e mais nada.

Será que ainda vai surgir alguma explicação mais detalhada? Terá isto alguma relevância? A minha aposta, conhecendo o Moffat, é que a resposta a ambas é sim. Pode nem ser já esta temporada, mas de certeza que vai surgir alguma coisa, eventualmente.

As teorias, obviamente, são várias. E as dicas do Moffat, juntamente com o facto de sabermos que ele mente que se desunha, não ajudam a manter a calma, ainda que o assunto esteja relativamente esquecido desde Deep Breath e com o mistério ainda maior da Missy no caminho.

Desde a todas as personagens serem o Doctor até ao facto de um Time Lord ter que ir buscar as caras que usa a algum lado, já muita tinta correu, especialmente antes do início da temporada. A minha opinião é que as três personagens estão interligadas, sem dúvida. Talvez da mesma forma que a Gwen Cooper estava ligada à empregada de The Unquiet Dead, qualquer coisa a ver com o Rift em Cardiff, mas acho que será algo mais interessante que isso.

Gosto bastante da ideia do Caecilius ser o Twelfth Doctor à paisana, o que seria muito interessante até para trazer Tennant de volta e fazer um episódio a contar o que não vimos em The Fires of Pompeii, mas isso deixa-me sem explicação para John Frobisher. A não ser que me deixem apoiar em outras coisas que não a série. Porque na BD e nas aventuras áudio existe uma personagem que parece um pinguim, capaz de mudar de forma para o que muito bem lhe apetecer, e que se chama... Frobisher.

Pelo que percebi, este bizarro companion do Sixth e do Seventh Doctors é acarinhado pelo público, portanto não vejo como é que se iam atrever a incluí-lo na televisão de forma tão violenta e definitiva como identificá-lo com John Frobisher.

A não ser que haja um plano, é claro. Todos conhecemos o apetite de Moffat por histórias compridas, basta ver que todas as temporadas de Matt Smith se podem incluir num grande arco narrativo que vai do seu primeiro ao último episódio, e desta vez até já Russel T. Davies dizia que havia um plano. E com o Eight Doctor a fazer dos seus companions das aventuras áudio parte do canon, em The Night of the Doctor, acho que tudo pode acontecer.

A ideia de Caecilius ser o Twelfth Doctor, e John Frobisher um pinguim alienígena que por alguma razão se transforma no Twelfth Doctor e ganha tanta importância dentro do governo britâncio, diverte-me. E gostava de a ver concretizada. Mas duvido. Acho honestamente que o plano desta vez é mais simples, e que talvez até passe por considerar que o que foi dito em Deep Breath seja mais do que suficiente, deixando em aberto uma futura referência que explique mais qualquer coisa, só para os fãs mais picuinhas ficarem descansados, mas por agora... Não me preocupo.

 

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso