Sobre mini-episódios

05-07-2015 14:31

A série original tinha uma vantagem sobre a actual. O formato, que talvez não conseguisse vingar hoje em dia (eu até acho que sim, com esta série e fandom em específico), era muito dado a histórias longas. Vários episódios, mais curtos do que actualmente, a contarem uma única história ao longo de várias semanas, como se cada episódio de hoje em dia fosse partido em vários episódios e esticado para durar um mês, ou um mês e meio.

Era um formato que dava outra margem de manobra ao argumento, que se podia esticar, contar e mostrar mais pormenores do que aquilo que é sequer possível imaginar hoje. O mais parecido a que chegamos são os two-parters, como o recente final da temporada oito, e até um caso excepcional de um three-parter, no final de uma das temporadas do Tenth Doctor.

Pensem lá um bocadinho nesses episódios. Não se tornam quase sempre excepcionais? Há tanta coisa a acontecer, que nunca caberia num só episódio, com sucesso! Nem sequer é impossível fazer temporadas sem grupos de episódios assim, como a sétima temporada, ainda com Matt Smith, demonstrou, mas perde muito o efeito e o charme tão próprio de Doctor Who.

Convenhamos, é quase impossível contar uma excelente história num só episódio que ainda tenha ligações a tudo o que já passou e às coisas que ainda faltam aparecer. Querem ver? Pensem lá em excelentes histórias só de um episódio. Agora façam as contas a quantas é foram realmente relevantes para o enredo e a mitologia da série?

Esses autênticos one-shots são fantásticos, sim, mas tanto podiam ser um episódio da série como um pequeno filme, que é possível ver sem saber mais nada de especial sobre o assunto.

Não hesito, portanto, em manter a minha posição em defesa dos two-parters. Nem do formato da série antiga! Com os seus episódios de vinte e cinco minutos, normalmente em conjuntos de quatro ou seis (mas a chegarem aos dez e doze, por vezes!), contavam histórias muito mais completas, com outro ritmo completamente diferente, e permitiam uma dose massiva de cliffhangers feitos de uma forma que é completamente impossível na série actual.

No entanto, estamos no caminho certo para pelo menos atenuar o problema. Falo dos mini-episódios, especialmente os que foram servindo como prequela para alguns episódios do Eleventh Doctor, mas em particular para os gloriosos sete minutos de Paul McGann a regressar ao papel de Eight Doctor, para regenerar no War Doctor de John Hurt.

São coisas simples, mas eficazes, que permitem contar pormenores e fazer evoluir a mitologia da série, sem causar nenhum problema em quem não as veja. Perde alguma informação, mas nada de realmente relevante para acompanhar a série.

Está bem pensado, e gostava que houvessem mais. Cheira-me que mais tarde ou mais cedo vai acontecer!

 

 

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso