Tempo de mudanças?

30-11-2014 16:46

Era uma pena que jovens não tivessem a oportunidade de acompanhar uma série como é Doctor Who. No meio de tantas que se fazem, e já se fizeram, esta insurge-se mais que não seja pela sua história vasta e rica ao longo de já mais de 50 anos. E se depois das voltas do McCoy com a Ace veio o McGann sete anos depois, naquele tempo curtinho, ainda esperámos mais nove anos até que Russel T. Davies fez história: Doctor Who voltou. E voltou em força!

Durante cinco anos e 4 temporadas tivemos T. Davies a trazer de volta os Dalek, Cybermen, Autons, tanta coisa e tão bem pensada que recuperou a popularidade e frenesim que a série tinha antigamente. Se Christopher Eccleston tem alguma coisa inegável é a sua qualidade como actor. Construiu um Doctor negro, de alguma maneira introvertido e que ainda assim consegue ser carinhoso, divertido e preocupado. O trabalho conjunto entre representação e argumento funcionou às mil maravilhas, as histórias cativaram, trazendo à tona as aventuras aleatórias e espalhadas por todos os cantos do Universo como sempre houve nas temporadas antigas.

 

Com David Tennant uma nova era veio: uma era mais chamativa, com mais interesse ainda por parte do público. A série cresceu e aproveitando o empenho do nono Doctor vem um décimo que não deixa trabalho para mãos alheias e arrecada mais público, mais notoriedade e lança a série para as bocas do mundo de uma vez por todas. Doctor Who voltou a ter um sucesso estrondoso como bem merecia.

Mas em The End of Time não nos despedimos só deste actor emblemático mas também de um grande criador: T. Davies dá lugar a Steven Moffatt, as mãos por trás do Doctor mudam.

E com Moffatt as coisas mudaram ligeiramente, deixámos de ter as típicas histórias aleatórias para termos uma história por trás de tudo, nem que fosse num pequeno pormenor, numa deixa mas tudo estava ligado de alguma maneira. Todo o arco que envolve a história cruzada do Doctor com a River à mistura com a Amy e o Rory, já na pele de Matt Smith num Doctor muito mais desengonçado do que já tínhamos visto.

Agora estamos a mãos com um novo Doctor, Peter Capaldi, já o 12º – mais ou menos – e as aventuras começaram outra vez a ser mais dispersas, individuais, histórias em que temos um início e um fim e poucas pontas soltas se deixam para pegar mais tarde. Mas verdade seja dita que agora, no “intervalo” até ao especial de Natal, e depois do episódio duplo de Dark Water e Death in Heaven e de todas as emoções fortes a ele associadas já correm os rumores de que Moffatt estará de saída. E não será o melhor?

 

Senão vejamos: Moffatt apostou em grande, partiu-nos o coração por várias vezes, trocou-nos as voltas mais umas poucas e continuou sempre a rir-se na nossa cara de seguidores inocentes a pedir misericórdia. Mas agora invertamos os papeis, olhemos para o que ele fez ao longo de todo este tempo.

Criou uma mega história, complexa e interessante mas não a explorou devidamente. Eu gosto imenso da ideia toda de tempos em ordem inversa, embora seja mais uma forma de nos matar lentamente de cada vez que vemos um episódio com a River (“You know what they say: there's a first time for everything! - And a last time!”) mas havia tanto mais por mostrar, tanto mais que podia ser feito. Embora também ache que ele tem um sério problema com personagens femininas, basta ver que a Amy é ridiculamente mal aproveitada: conseguiu criar uma forte amizade e uma dinâmica incrível entre o Doctor e ela, é verdade, mas a personagem em si não tem muito que dizer. Há três grandes momentos para Amy Pond: a aparição do Doctor regenerado e as tentativas de alimentar o Doctor; o episódio em que se separa do resto do grupo e envelhece sozinha (The Girl Who Waited) em que mostra uma Amy com carácter, acção, uma Amy que faz juz ao título de mãe de River Song e por fim o último episódio de Matt Smith, em que não precisa de falar, a presença dela diz tudo.

Mas Moffatt marca uma era diferente que por vezes resulta muito bem e outras muito mal: sabemos que esta série é sobre viagens espacio-temporais mas até que ponto podemos usar estas brincadeiras sem ser demais? Em alguns episódios a única imagem com que se ficava era que a história até podia ser muito boa mas para a explicar ou atar algumas das pontas soltas o resultado é muitas vezes o mesmo: wibley wobley timey wimey!

Mas agora esta série 8? As opiniões são muitas e variadas, como aliás costumam ser sempre, mas há um espírito que se nota nas comunidades whovians: estamos um pouco desiludidos.

Ok, estamos já muito vacinados a ver as nossas personagens a morrer, a esquecer, a desaparecer-nos da vista para sempre de um momento para o outro mas quando nos dão um doce e no-lo tiram passado 10 minutos aí ficamos chateados.

Acho que ainda não vi, ouvi, li algum tipo de reacção negativa à Missy! Acho que é impossível encontrar alguém que consiga dizer que aquela personagem está outra coisa qualquer diferente de perfeita. É ponto assente. O Master de uma forma geral tem o carinho do público, é um vilão, inimigo do Doctor e que tenta repetidamente matar-nos a todos mas tem estilo, tem carácter, é engraçado e acaba por nos levar nas loucuras dele sem o conseguirmos realmente odiar pelas coisas atrozes que faz e/ou fez.

 

Mas a Missy levou tudo isso a um novo nível. Ela conseguiu matar uma das personagens mais queridas pelo público (coitadinha da nossa Osgood!) e ainda assim lança um “But did I mention? Bananas!” que me deixou a mim – e de certeza que a muitos outros – com uma gargalhada entalada na garganta a marinar em lágrimas. É este o tipo de coisas que Moffatt nos faz!

 

Mas embora eu tenha para mim que toda esta história não fica por ali – a Missy tem de voltar, a Osgood a mesma coisa! Ou pelo menos é o que eu rezo à noite! -  vejamos por oura perspectiva: cria uma personagem perfeita como é a Missy para aparecer em dois episódios e depois mata-a? Traz de volta uma personagem querida por qualquer whovian, a já referida Osgood, e logo a seguir mata-a? Depois de uma temporada a mostrar uma Clara completamente diferente do que conhecíamos dela, que em nada é parecida com a companion que conhecemos ainda na era Smith, fá-la ter atitudes bruscas e confusas e estranhas e que ninguém consegue compreender. Apaixonou-se? Sim, é verdade e ainda por cima depois de lhe terem trocado o Doctor mas de onde vêm aquelas atitudes mais obscuras da Clara para com o Doctor?

O Moffatt fez um bom trabalho, tem alguns dos melhores episódios que já vi a serem escritos pela mão dele mas com os eventos mais recentes começa a sentir-se um cansaço das aventuras que ele nos faz passar. Já fez o Doctor dar muitas voltas, já construiu muito da história que esta série tem mas começa a chegar a um ponto em que precisamos de uma lufada de ar fresco! Qualquer coisa porque se Dark Water deixou uma salivação imensa nos fãs Death in Heaven conseguiu, na grande maioria dos casos, deixar uma grande frustração, principalmente com este Sr. Steven Moffat.

Já nem peço alguém que não nos torture a alma com tristezas profundas e mortes que nos fazem deitar as mãos à cabeça, alguém que traga um novo rumo, talvez arcos narrativos menos extensos, mais interessantes e ainda melhor representados! Doctor Who merece e Peter Capaldi também, que ainda nem teve tempo de brilhar!