The Husbands of River Song - Review

27-12-2015 11:00

O quanto eu esperei por este episódio. Digam o que disserem e façam o que fizerem eu vou manter um fascínio gigante pela River Song e pela relação que ela tem com o Doctor.

E sabendo eu que neste episódio íamos ter a River o Natal iluminou-se de uma maneira muito mais especial.

Começamos com um espírito muito natalício: luzes, neve, Pais Natal, coisas a piscar, uns chifres de rena na cabeça do Doctor (a fazer lembrar o Wilfred), e no meio disso tudo uma TARDIS prestes a ser abordada por Nardole – ou Matt Lucas, conhecido por muitos por fazer dupla com David Walliams em Little Britain, e que já trabalhou inúmeras vezes com Catherine Tate – alguém que pelos trailers sabíamos estar directamente ligado à River. Não havia de demorar muito a que aparecesse.

E assim foi: com um manto de Pai Natal, ou Mãe Natal, como queiram, que só serve mesmo pelo dia que é, aparece-nos mais uma vez a mulher do Doctor, a filha de Amy e Rory, naquele estilo respondão, gozão mas inteligente que já bem conhecemos! Só que desta vez temos a própria River a não reconhecer o Doctor. Doze caras ela conhece, mas esta nova ainda não lhe diz nada (não chegou a saber da renovação de regenerações, pobrezinha). Mais a mais o episódio chama-se “Husbands of River Song”, isto dá logo potencial para asneira das grandes.

E a partir daqui começamos a ver o desfile de loucuras da River: dois maridos, um num robot tipo Baymax com um diamante alojado na cabeça dele que a River quer roubar, o segundo para ajudar nessa tarefa. Toda a gente sabe que a solução mais fácil é então roubar-lhe a cabeça. E é isso mesmo que se faz. Para as coisas correrem bem é preciso um médico, "a Doctor", e mesmo sem saber quem é aquele cirurgião estranho a cumplicidade entre os dois é notória desde o início.

Todas estas peripécias e o Doctor a ver e a não achar piada nenhuma a uma River duplamente casada, sem ser com ele. Pior nem sequer o reconhece. As demonstrações de ciúmes do Doctor são bem engraçadas mas também não era para menos. 

Não deixa de ter piada que a River mostre que no fundo anda atrás do Doctor, mas “só” tem 12 caras na operação “Damsel in Distress”. Esta donzela anda sempre em sarilhos e a River tem de o salvar. A "cápsula do tempo" do Doctor foi encontrada naquele sítio, mas onde estará ele? Ainda sem saber com quem viaja, a River mete-se na TARDIS - e dá a hipótese de vermos o Doctor a fazer todo o teatro de "It's bigger on the inside!" -, coisa que pelos vistos é recorrente, sem que o Doctor dê por ela, e vai à sua vidinha, ver se vende o diamante!

Mas ao vermos os minutos passar é quase como termos um pequeno desfile de coisas propositadamente postas à nossa frente em forma de “Caça ao Tesouro”. Não acredito ter sido a única a ter dado um pequeno salto quando apareceu uma fez na mala dela, o diário ou uma Sonic Trowel – é uma espátula, como usam os arqueólogos nas escavações.

O diamante tem de ser trocado e aquilo que parecia um negócio muito bem pensado revela ser um problema já que quem o compra são seguidores fieis da cabeça que teriam de escavar para obter a pedra. Começa tudo a dar para o torto, como sempre, e cabeça e corpo estão prestes a juntar-se. Acontece que o corpo rejeita a cabeça por já estar muito danificada. Resultado: é preciso uma cabeça nova! E que cabeça pode ser melhor do que a do próprio Doctor? 

Quem a início parecia amigo ainfal trai todo o esquema da River, roubando-lhe o diário para provar que tendo-a em perigo o Doctor há de aparecer, e assim sendo poderiam roubar-lhe a cabeça. Mas o Universo já devia saber que não é boa ideia meterem-se com a River. Tirarem-lhe o diário e começarem a ler pedaços – The Pandorica Opens, Asgard, Jim the Fish, Crash of the Byzantium, para nós é bem mais do que um conjunto de aventuras bem passadas mas enfim – ia só desenhar um alvo nas testas de cada um deles para uma vingança à lá Doctor Song.

Vale a pena os vários momentos de discurso, seja do Doctor, seja da River. Ouvir a River dizer que o Doctor não a ama e ter uma máquina que comprova que ela está a dizer a verdade dá aquele murro no peito que ninguém gosta de sentir. Mesmo sabendo que tudo o que ela diz nesse pedacinho sai de uma cabeça a quente, custa a ouvir, mas mais que não seja para acabar como acaba, com a troca de olhares cúmplices que só eles dois sabem ter, vale a pena.

Com uma pequena ajuda de uma chuva de meteoros a nave onde se encontravam vai despenhar-se e logo no local onde Doctor e River Song evitavam há muito tempo: Darillium.

Ao longo de todas aventuras que já os vimos a viver, e neste caso bastava a primeira, sabemos o que acontece neste planeta: a última noite que passam juntos. Ver que vai acontecer é mais um daqueles momentos de DW que nos põe o dedo na ferida e continua a esburacar. The Singing Towers of Darillium, o local onde a River recebe a sua Sonic Screwdriver, todos sabemos para quê.

No fundo este episódio é um miminho, vejamos por a perspectiva que quisermos. Não é um episódio de Natal, aliás, não tem nada a ver com o Natal. 

Trouxeram-nos de volta a River, puseram-na sem reconhecer o próprio marido durante imenso tempo, enquanto vemos o Doctor a variar entre ciumes e tristeza por não ver reconhecimento nos olhos da mulher que ama, mas quando finalmente se apercebe de quem está mesmo ao lado dela a ligação entre os dois é muito bem concretizada, seja pela Alex Kigston, seja pelo Peter Capaldi. Um óptimo trabalho de representação, sem a mais pequena sombra de dúvida.

Ganhámos mais história sobre a River – que é sempre bem vinda -, ganhámos mais uma coisa para o mundo whovian fazer piadas e altares: flowcharts, e embora este episódio seja uma montanha russa de emoções é um episódio bem escrito, bem concretizado e que fez o Natal um dia Whovian a sério.

 

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso