Tradução ou não

07-06-2015 10:29

Estando cada vez mais embrenhada no mundo que é Doctor Who acabo por me confrontar com diferentes pontos de vista para toda e qualquer situação da série. Para qualquer pormenor que nos possamos lembrar há teorias diferentes de porque é que apareceu, qual a origem, qual o significado, o que vai acontecer a seguir, enfim, há uma grande riqueza em interpretações ao longo de 50 anos. E faz sentido, porque sejamos honestos: com tanta reviravolta que acontece, e já aconteceu, nesta série é assim tão estranho que ponhamos a nossa imaginação a tentar descortinar mais um bocadinho do que poderá vir a seguir?

Uma das guerras mais acesas que se encontra sempre que há whovians ao barulho é a pergunta mítica: O Doctor Who? O Doctor? Não vale a pena entrar nessa guerra, ambas as partes têm argumentos para defender o que têm a dizer e o consenso vai ser impossível, absoluta e completamente.

Mas à parte de nomenclaturas e aparições nos episódios ainda há outros mundos que separam as águas e põe gente de um lado ou doutro da “guerra”. A internet é um sítio grande e o Whoniverso tem uma boa porção lá pelo meio, espalhado pelo mundo inteiro, incluindo, entre Portugal, Brasil e outros, muitos falantes de português. A maneira de lermos as coisas é que pode ser diferente.

Que tal encontrar que o Doutor é um Senhor do Tempo que viaja por todo o espaço e tempo com os seus companheiros? Ainda para mais tem o seu maior rival, o Mestre, sempre a tentar fazer algo de errado que o Doutor tem de evitar ao máximo.

Sim, nada disto está errado ou é reprimível de alguma forma mas é muito mau que me doa qualquer coisa de cada vez que o vejo? É que essas palavras, embora as mesmas mas em português, não são aquelas com que identifico a série, as personagens, os conceitos básicos deste mundo todo. É provável que aconteça o contrário para quem se tenha habituado a ver as coisas em português mas eu não consigo de pensar que estou a falar de anões da Branca de Neve. Doutor e Mestre, soa a isso, não?

Agora, toda a gente sabe que a questão das traduções é sempre complicada, levanta sempre muita poeira e quase nunca agrada a toda a gente. Neste caso não há erros de tradução ou más interpretações. Pura e simplesmente há habituação de chamar alguma coisa a uma pessoa e depois dizem-nos que na realidade tem outro nome (é um pouco como a Anita se chamar Martine, para mim será sempre Anita e a Martine é uma estranha)!

Na minha cabeça, e na minha “versão” da série existe um Doctor, não sei quem é o Doutor. Um Senhor do Tempo soa-me a livro de ficção científica. Os companheiros do Doutor na minha cabeça hão-de ser os enfermeiros. O Mestre era um anão. Não são estas as pessoas que eu conheço e acompanho e no entanto é apenas uma questão de língua.

Parece tão irrelevante mas faz toda a diferença. Mais do que partidos de quem gosta mais da Donna ou da Martha, do Moffat ou do T. Davies, da série antiga ou da nova, do Capaldi ser muito velho ou o Smith muito novo, enfim, isso são opiniões, são maneiras de interpretar e interiorizar a série. Agora conhecer alguém por um nome e depois ver outros a tratá-la por outro, isso sim é estranho. É um nível mais acima de intimidade, principalmente quando falamos de episódios e personagens que acompanhamos regularmente (desde que haja episódios para ver).

Isto dá para discutir sobre tanta coisa, tantos twists, tantas personagens, tantas interpretações, tanta coisa, e nós bem que discutimos. E esta história dos nomes e das línguas? Sou só eu que sou esquisita ou é mal geral?

 

Artigo da autoria de Júlia Pinheiro, membro da equipa Whoniverso