Tudo começou em 1963

23-11-2014 16:07

Verity Lambert. Sydney Newman. William Hartnell. Estes são apenas três dos nomes que estiveram envolvidos com a origem de Doctor Who, e devem ser os que já foram unanimemente deificados pelos fãs, ou quase.

A importância de Lambert e Newman é indiscutível, e a reverência a Hartnell, o First Doctor, é praticamente universal. E isto já há mais de cinquenta anos! E ainda nem cheguei à parte mais incrível.

Essa distinção vai para o facto dessa “coisa” ser uma série que ainda perdura. Depois de mais doze actores principais e dezenas de companions e vilões, Doctor Who ainda continua, praticamente nos mesmos moldes. Com as devidas actualizações, como é óbvio, mas qualquer pessoa que veja o primeiro episódio de Hartnell e o mais recente de Capaldi, vai encontrar semelhanças.

Mas como é isto possível? Afinal, nem sempre teve a vida fácil, contando até com pelo menos duas alturas de hiato – uma de dezoito meses, a outra de vários anos – que muito angustiaram os fãs. A série voltou sempre, até agora, e parece mais forte do que nunca, mas como? Nunca foi a única série de FC existente, nem a única com uma boa base de fãs, portanto... Como?

Para começar é preciso realçar que não conheço outro grupo de fãs como este, no qual me incluo. A Devoção à série é mesmo assim, com letra grande.

A verdade é que por algum motivo a série conseguiu reunir um grupo extraordinário em que as pessoas na mesma frase parecem capazes de chamar nomes a tudo o que seja relacionado com Doctor Who e jurar defender a série até à morte.

E não sei mesmo como nem porque é que isto acontece. Apenas posso dizer que me sinto orgulhoso de pertencer a estas fileiras, com todos os seus defeitos.

Mas independentemente disso, a série tem que ter alguma coisa mais objectiva que explique a sua longevidade: nada se aguenta muito tempo por simples carolice dos fãs.

Parte é fácil de identificar e reduz-se a duas pedras basilares do programa: a Tardis e o Doctor. Uma permite viagens no tempo e no espaço, o outro renova-se constantemente, de forma quase frenética. Também é importante realçar um leque diversificado de vilões e a presença constante de um (ou mais) companions, que servem de contraste e ponto de identificação para os espectadores.

As viagens na Tardis são úteis para atrair um público muito diverso. Gostam de westerns? Fácil. FC hard? Fácil. Um cenário histórico, com personagens reais? Fácil. Um planeta distante? Fácil. A Terra nos dias de hoje, na pré-história ou nos seus últimos dias? Fácil, fácil, fácil. E eu já vi episódios com todos estes cenários.

As possibilidades são muitas, e são importantes não só por essa capacidade de apelar a um público abrangente, mas também por permitir a capacidade mais importante em Doctor Who: a de renovação.

O protagonista ajuda a isso mesmo. O facto de o Doctor ter sido representado, ao longo dos tempos, por um conjunto extraordinário de actores também ajuda, mas é o próprio conceito de regeneração, que nem fazia parte dos planos iniciais, que é fulcral aqui.

É uma jogada de mestre! O sonho de qualquer série! Poder mudar de protagonista sem mudar de protagonista. A personagem é sempre a mesma, mantém a mesma essência e é fácil reconhecer o Doctor qualquer que seja a sua cara, mas muda de personalidade, de aspecto, de particularidades... Sem nunca deixar de ser o Doctor de semrpe!

Isto permite renovar completamente a série com a mudança de Doctor. Um exemplo fácil é a mais recente transição, Smith-Capaldi. Não foi a mais dramática, mas de contos de fadas negros passámos a algo muito mais cru e agressivo. E com facilidade. Que outro programa é que se pode gabar do mesmo?

Poucos, muito poucos. A verdade é que Doctor Who continua forte, talvez mais forte do que nunca, em parte por causa de algo característico desta série e que eu acho muito peculiar. A maior parte das pessoas envolvidas actualmente na série são fãs, muitos dos quais viam a série quando eram novos, ainda no século passado. David Tennant, Peter Capaldi, Russel T. Davies, Steven Moffat, todos eles são fãs confessos. Isso faz desta uma série para fãs, feita por fãs. O papel de Doctor já é tão icónico que os actores que já o tiveram nas mãos são tidos na mais alta consideração pelos fãs.

Acho que é por isso. Sim, há um grande deslumbramento, sim, há uma série muito bem feita (a maior parte do tempo), mas está na altura de dar a devida importância aos fãs: sem eles, Doctor Who já não existiria. Literalmente.

Artigo da autoria de Rui Bastos, membro da equipa Whoniverso